O tempo parecia ter parado
Só eles dois podiam se mover
Bem, eles dois e um homem que apareceu do nada
Um homem bronzeado, da mesma altura do menino, porém careca e infeliz
O menino teve a sensação de que ele e o homem eram a mesma pessoa, então disse:
- ei, vai falar com ela!
Disse aquilo umas cinco vezes, mas o homem nada respondeu e sua expressão em nada se alterou, na verdade, o pobre homem parecia inconsolável
Tudo na grande sala de paredes branca, cheia de pessoas em pé, que mais pareciam estatuas, continuou igual
O tempo não passava, o relógio da sala estava congelado
A menina que até agora apenas observava e ouvia tudo, deu um sorriso triste e falou:
- ele tem medo de falar comigo
- porque?
- tu ainda não percebeu? Ele é você!
O menino já sabia disso, mas espantou-se como se não soubesse, pois não conseguia imaginar como a menina sabia
- mas como eu fiquei assim? – perguntou o menino após alguns minutos de silencio
- assim como?
- bronzeado, careca, com uma expressão tão vazia... eu estou um lixo!
- ah, isso! Bem... lembra que tu me amava?
- eu te amo
- de qualquer jeito, a gente não ficou junto, e tu ficou assim
- mas de uma hora pra outra?
- não, não... – disse a menina sorrindo – você vai ficar assim
- mas o que acontece pra eu ficar assim?
- você fica triste o resto da vida, porque nunca ficou comigo, quando era o que tu mais queria, e pra falar a verdade, era o que eu também queria – acrescentou ela encabulada
- mas cadê você no futuro? Porque só eu estou aqui?
- ah, eu morri, por isso que eu estou assim
O garoto ficou surpreso com essa constatação, mas nada disse
- continuando, tu fica assim bronzeado porque tu casa com uma mulher má que vive na praia, tu odeia praia, né?
O menino apenas assentiu
- é... eu lembro que tu me disse uma vez...
Ela se perdeu em lembranças por alguns minutos – ou horas, era impossível ter noção de tempo naquela hora – e então continuou:
- e tu fica sem cabelo porque tu tem tantas preocupações... e aquela mulher te trata tão mal! Sem contar que tu odiaria ser careca né? – dessa vez ela nem esperou resposta – eu lembro disso...
- e porque tudo parou? Porque estamos aqui com ele? – o menino fez uma careta ao dizer “ele”, pois não sentia a menor simpatia por seu eu futuro
- porque eu sempre te amei, mas jamais demonstrei isso, então eu vim pra te salvar
- salvar do que?!
- dessa vida!
- tu vai me levar contigo então pra nós ficarmos juntos? – perguntou ele excitado
- impossível...
- então vai ficar junto comigo? – perguntou ele ainda mais excitado, e até emocionado
- não tem como, eu estou morta... – disse ela tristemente
Ao ouvir isso, o menino se sentiu mais triste do que jamais se sentira na vida
- então no final das contas a gente nunca vai ficar junto? – perguntou ele quase chorando
- ai é que está! Eu nunca demonstrei o quanto eu te amava, então eu vim pra te salvar de uma vida miserável, como prova de amor...
- mas se você está morta, minha vida vai ser miserável de qualquer jeito!
- não, você apenas tem que fazer as escolhas certas, fique com quem te trata bem, e tudo vai dar certo no fim...
- mas quais serão as escolhas certas?
- as que o teu coração fizer! Nunca se esqueça que eu te amo, sempre te amei, e sempre vou te amar, pela eternidade, sempre esperando que a nossa hora chegue...
Tudo que ele conseguiu responder frente aquela declaração foi:
- eu também te amo...
Foi mais que o suficiente, pois ela já sabia disso, e após aquelas palavras, eles se abraçaram, o tempo voltou ao normal, e a vida dele foi perfeita até o dia de se unir ao seu verdadeiro amor na eternidade.
Esse é pra Marina Colle (@marinacolle) que sempre foi uma ótima amiga pra mim e me serviu de inspiração pra esse conto, graças a um sonho. Obrigado Marina (:
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